
eu viajei para a praia do forte, vi as tartaruguinhas e o mar. a igreja. o forte. fotos e cascos. tudo doce. era outono também. choveu antes e depois. eu estava feliz.
as tartarugas vivem muitos anos. centenas. bem mais do que nós, os infames. e elas gastam essa pseudo-dádiva [as tartarugas não são seres alegres] viajando. enormes, tristes, cansadas cruzam o planeta a procura de um não sei quê que justifique tantas décadas, séculos até, como testemunhas oculares do sem-sentido que é a vida, elas viajam. nada as oprime. nem as crias, nem a distância. atravessam o mundo, através dos oceanos, até que algum idiota que queira um pente, um brinco ou sopa quentinha as agarre. ou que alguém preocupado com a extinção delas as pesque, alimente, cuide e recoloque no mar. no meio deste processo eu a vi, linda e triste. ela gritava, cabeça para fora do tanque, nadadeiras esforladas [nem sempre o corpo obedece o coração] ela se virava na direção do mar, e insistia. acho que chorava.
uma vez, faz tempo, uma tartaruga também cantou pra mim. apareceu de repente linda, doce e triste. com aquele olhar tênue que diz: sou só. cuida de mim?
acreditei: quis. deixei. foi um nado tranquilo. o oceano todo para mim era um lago agradável. mas as tartarugas não gostam do chão, não constroem casas. eu olhei ao redor e ela já não estava. foi-se sem avisar. e me afoguei.
tartarugas querem conter todo os oceanos dentro de si. a inmensidão lhes é pouco. vão. porém, sempre retornam.
eu que não quero mais nadar.
e prefiro a sozinhez da praia, ao sol.
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