sábado, 7 de maio de 2011

troco um mar de esperanças em um amor inventado por uma gota de bom senso.

nada é novo.
a verdade é como um esmalte velho, esquecido na gaveta que já se transmutou em cores e texturas inimagináveis, mesmo assim você reconhece como seu. como um gasto à toa. um desperdício. um: "como eu pude escolher isto?". a diferença é que perder o investimento (material) em um reles esmalte não condiciona seu bem estar noturno, nem sua consciência afetiva. ao menos não pra mim, que nunca me apeguei a essas futilidades.
agora, essas histórias que a gente tece, dia a dia, sorriso a sorriso, compartilhando simpatias, almoços, identificações, sonhos, percepções, noites, toques, estudos, sons, fluidos, saberes, começos, incentivos... essas cumplicidades a que um relacionamento de amor sempre nos impeli...
mas.
eis as adversidades: segredos; manias; histórias de outras promessas que por mais que ignoremos, latejam em pequenos detalhes, como o ressoar de um sino diminuto mas insistente. eis que no insistir de um biscoito discreto, mergulhado em um chá despretensioso, numa tarde de outono, surgem lembranças tão vivas de um passado ido, mas presente como um amor ainda aberto. feridas que nunca saram. lembranças de um tempo perdido. eternidade que não cura.

meia garrafa de vinho me será suficiente para garantir coragem de terminar um namoro? não, né? preciso beber mais, então.

domingo, 6 de março de 2011

arlequim

é carnaval. mesmo no coração da folia, epicentro de trios, quartetos e bandos, luzes, máscaras, há quem se refugie. no meu caso, prefiro o esconderijo no castelo de metáforas e lamúrias, sombra passante por janelas entreabertas. ouço ao longe o ecoar dos tumultos: sheherazade enfrentando o sultão, ao vivo, em todas as telas. conflitos, dúvidas, calor, livros, poeira, louça suja, solidão, irmã e irmão chegando. do outro lado, a persistência de uma situação que adultera minha fé em mim, para dizer o mínimo. estudos. escritos. perspectivas. tudo misturado. re-luz. sonos, falas, acordes, escritas, distrações e tantas bobagens... nada, porém, consegue apagar um pensamento nascido por acaso, ontem:


quem faz aniversário em pleno carnaval só podia mesmo ter alma de arlequim.


eis o grande mistério latejante. era para lhe contar mentiras coloridas e risonhas. inventar histórias de felicidades, conquistas, milagres. era para ser bem flutuante, reconciliada, esquecida, até. era para ser qualquer outra que não esta, à sua espera.

sábado, 5 de março de 2011

janeiro



descobri com o caio f. que tem jeitos muito diversos dos meus de se iludir: há quem se engane repetindo para si mesmo que tem um dragão com quem mora; há que se diga todos os dias: que será doce.

claro que eu faço isso também, mas quando chove granizo em pleno sertão, como ontem, apenas me permito dissolver as velhas expectativas numa ladainha seca, escondendo ao máximo a tempestade interna, apesar de violenta e irremediável, escondida como boa parte dos meus projetos vencidos.

voltar à casa onde se perdeu a infância é reconhecer como a invenção de esperanças de que aprenderia a voar e seria feliz podem se tornar duradouras. voltei. mal consigo ver, espalhadas em cacos aleatórios, o reluzir fugaz de recortes de lembranças misturadas, o que foi e o que nunca será agora são inseparáveis: era para ser contínuo e fresco, era para ser boa como a aventura dos meninos perdidos, mas eu apenas voltei ainda com a pele colada com dúvidas e nãos e outros tantos talvezes, essa velha coleção de mágoas além das recentes desarmonias...

os anos girando e eu ainda me debatendo no inóspito desse mar de areia seca granulada e fria como a dúvida em si mesmo, que nos assola em plena madrugada insone, esses desencontros que me congelam pouco a pouco. mar de gelo no sertão.

"na vida, devemos desconfiar: do sultão, do mar, da sorte e do amor; principalmente quando estes sorriem para nós"

e lá vou eu: a perdida, a incerta, a desgastada; cada dia mais ciente de que se os dragões não conhecem o paraíso, eu tampouco.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

sol-azul

começou quando o @caiofabreu me disse:
Vezenquando baixa uma saudade, e fico sentindo falta do teu jeito lento de chegar pisando em nuvens, sempre azul.

então, eu não resisti e fui contar para o vento essa boa verdade sentida aqui dentro, queria que você ouvisse a minha voz pingando essa saudade envelhecida e muito rouca.

e lá fui eu me dissolver lendo/ouvindo drágeas de pensamento ultramoderno de um alheio que já foi meu. (já foi?) #meninoazul

ouvir uma vez só não era suficiente, pq era domingo, vc está tão longe, tão acostumado a minha não presença. eu tive que repetir pra nós dois os seus próprios versos. sua música nos meus ouvidos. um pouco do que me restou de você aqui, esta gravação em que vc desafina, e eu é quem perco o tom.

"às vezes eu só queria precisar dizer q te amo...isso é tão fácil pra mim...assim como dizer que te odeio, tanta coisa em comum" #meninoazul

quanto mais eu sentia saudade de você, mas te odiava.

olha aqui seu #meninoazul mesmo q vc não nos escute, repetimos: "um ser humano jamais atravessa incólume o círculo magnético de outro"


a trágica hora das lamentações e repetições de frases antigas. meu último cântigo assistido por você, relembrado à exaustão.

esta minha mudez revoltada é só para que se lembre da inexistência de penalidades suficientes. não esqueço. #meninoazul

no incomensurável dos desejos e sonhos, entre o aqui e o aí, no reino do sem nome onde nos encontramos, lhe perdôo. #meninoazul

só não espere anistias, benevolências. que o que eu lhe dei foi amor, não salvação. #meninoazul

está perdoado. esta é a minha vingança. #meninoazul



e ao ver seus rastros antigos, tanta coisa que eu nunca soube, avanços, receitas, mesas, toalhas, xícaras, flores de plástico e sonhos cotidianos azuis, tudo combinando com sua alma de sol e com suas anunciadas promessas de vida comum, longe de mim, sem mim, tudo parecendo já gasto pela rotina mas que me era tão novo quanto essa falta que você faz repentinamente agora,

confessei:

1. sei que você jamais ouvirá nenhuma dessas minhas abreviações de amor irreal. não faz diferença mesmo, todos os ventos sabem que não quero você. não volte. jamais pensei algo assim. é apenas sombra de saudade esparramada por incontidas lembranças outras. foram dias bons, vc também há de convir, se algum acaso milagroso lhe permitir me olhar nos olhos.

2. havia perdido a lembrança dessa sua infinita capacidade de rir azul.

3. se você me olhar nos olhos e sorrir, eu te amo de novo.


então, que fazer se não voltar à estação do esquecimento?


nota mental: não colecionar prolongamentos de situações que declaradamente rimem apenas com possibilidade intransitável. #meninoazul

nota mental: não perseguir sonhos de eternidade com alguém que pretende plantar sua felicidade em outro asteróide. #meninoazul

nota mental: desistir de juntar partículas de esperanças abandonadas por gente q mesmo indo embora ñ apaga seu rastro de poesia #meninoazul

nota mental: ignorar o florir das promessas dos cometas #meninoazul

nota mental: não esquecer que o incentivo a ouvir e rir para as estrelas sempre vem de um pequeno principe suicida. #meninoazul

nota mental: evitar a tentação dos filhos do sol garante bem mais do que a saúde da pele. #meninoazul

nota mental: gente que sorri azul deixa sempre um rastro excessivo e íntimo, não importa o quanto você finja ignorar. #meninoazul

nota mental: não há tempo que suprima a ausência de um #meninoazul





pra não esquecer jamais:












nota mental: não há tempo que suprima a ausência de um #meninoazul