sexta-feira, 12 de novembro de 2010

mesóclise

eu gosto da mágica dos pronomes possessivos
suas flexões de desejos corrigem os limites de todas as palavras,
criam cercas, porteiras e cadeados
com eles, nos perdermos nesse pomar de sonhos
minha sombra
meus versos
meu amor

eu gosto da sedução desvairada dos pronomes possessivos
nossa história
nosso ritmo
nossa doce ilusão de completude

teu gênio
tua cor
tua festa dionisíaca
minha boca na tua
nessa ilusão de sermos um só
o meu e o teu

eu gosto do desatino dos pronomes possessivos
dessa coleção de expectativas, dessas marcas na pele,
dessas linhas e linhas e linhas
que me fazem crer
naquilo que eu mesma inventei

terça-feira, 2 de novembro de 2010

é bom que seja assim, Dionisio, que não venhas...




quando chegaste do reino do improvável, qual os antigos conquistadores, magnos e ardentes, me abraçaste, beijaste e disseste: vem comigo; eu fui.

desde então, o teu comportamento de eternidade criou aqui esta aura de permanência dos teus cantos e toques. na tua boca vi conter todo o reluz daquelas estrelas que nos sorriem e eu, simples adoradora rendida, larguei meu cetro do reino do desdém e passei a mendigar um pouco desse ar que o teu corpo produz, quando te ergues e passa, desmontando dúvidas, soerguendo ilusões em espirais que eu já não sonharia. eu fui contigo, de mãos dadas, abandonando pelo caminho a minha coleção de desencantos, segredos e promessas vencidas. Ariana, Ester, Aurélia Camargo todas as minhas faces a ti suplicantes.

teus sons e cheiros de feitiço perpétuo, tuas mãos onde depositei minhas galáxias de esperanças de renovação, teus ombros, teu corpo, tua sombra, vestígios do teu poder, o eco de tudo isso, agora, me grita através dessa casa onde já não estás, um palácio feito o pasto seco da caatinga, desolado, onde dormem meus versos desesperados totalmente inúteis, como os colares, vestidos e flores que vez ou outra ainda teimam em me ofertar, mas que desprezo. desses desencontros contínuos onde a vida insiste em nos moldar, dessas falhas nos rumos do que julgamos ser nosso, dessa grande tolice que é a emoção humana.

e fica essa mistura de ungüentos, lágrimas e cantos que jamais suporias, tantas outras de mim, espalhadas, sangrando, à tua espera.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010





me parece que em tardes chuvosas de primavera como esta, os Corvos saem ao acaso e gritam aos tristes: nunca mais.
me parece que em tardes chuvosas de primavera, não há torta holandesa, ouvidos amigos ou refúgio nos livros que nos sare.
em tardes chuvosas de primavera, todas as águas internas da oxum que há em mim se turvam, perco a cor.
em tardes chuvosas de primavera, tudo que eu não quero é rever seu rosto de sol, sorriso impessoal, sem culpa nem saudade.
tardes chuvosas me arrancam a primavera.
tarde de chuva por dentro.
é tarde.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

retratos





(...) ontem por incrível que pareça todos os lugares que pisei eu te procurei. teus rastros ficaram por lá. o balançar de teus cabelos e esse teu jeito meio atacado de ser. fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra o quão necessitamos de algo/alguém. é assim o nosso ciclo. eu te preciso. perto, longe, tanto faz. preciso saber que tu está bem, se respira, se comeu ou tomou banho - com o calor que está fazendo neste verão, tome pelo menos uns três ao dia, e pense em mim, estou com calor também. me faz bem pensar nessas atividades corriqueiras, que supostamente você está fazendo. ah, e eu estou te esperando, com meu vestido curto, óculos escuros grandes e meu coração pulsando forte, e te abraçar até sentir o mundo girar apenas para nós. é, eu gosto muito de ti.

caio fernando abreu

domingo, 30 de maio de 2010

outros espaços


a saudade mistura tudo. a saudade não conhece o tempo. não se sabe o que é antes nem depois. tudo é presente. #coisasqsinto #rubemalves

sábado, 20 de fevereiro de 2010

sol-azul: aniversário como tempo de desabafo e perdão.

outros títulos possíveis:

depois de 3 estações, um scrap.


ou:
pq isso aqui não deixará de ser um acúmulo de versos espalhados, em pedacinhos aleatórios...


ou:
de quando eu plantava girassóis.


ou:
tudo depende do humor do Sol².


ou:

7/10/2009 21:52:59


está perdoado. lhe entreguei uma misericórdia apressada, corrompida, como diria o n. rodrigues, seu companheiro de anunciação de afetos múltiplos, espalháveis. daí que a sua ofensa maior, o seu grande erro, esse de existir longe de mim, apesar da órbita e das rimas, sobrepõe-se aos momentos nuviosos, às bolas fora, e não permite que o esquecimento alce vôo. pesa. e este meu silêncio morno, que picharia a cidade inteira com recriminações a seus atos levianos, embora preferisse lhe dedicar as tais flores amarelas, se não entendesse a excepcionalidade conceitual do caso, se não acreditasse, à revelia da minha fé em escombros, que há a promessa, esta minha mudez revoltada é só para que se lembre da inexistência de penalidades suficientes. não esqueço. e no incomensurável dos desejos e sonhos, entre o aqui e o aí, no reino do sem nome onde nos encontramos, lhe perdôo. só não espere anistias, benevolências. que o que eu lhe dei foi amor, não salvação.

está perdoado. esta é a minha vingança.




as estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê - saint-exupéry






7/10/2009 21:52:59
está perdoado. esta é a minha vingança.

Que bom! Pensei ter morrido, pra ti...

por você, eu encherei a soterópolis inteira de girassóis, no verão.

Oh meu Deus...
Senhor, obrigado!

vc verá, nem q seja por fotos.

Antes, diga-me: como passou esse tempo todo de silêncio?

já disse: minha mudez revoltada é só para que se lembre da inexistência de penalidades suficientes. não esqueço.

Estou bem habituado a penalidades... o tempo todo sofro alguma delas!
mas eu queria saber se vc está bem...

estou.
e vc?


Bonzinho... aliás, nem tanto, pela tua mudez...
Mas agora estou melhor.

mudez q não deixou de ser carinhosa, pq te mandei versos azuis
só hoje vi q estão lá, no orkut
gostei.


Eu os li... fiquei com receio de responder, mas gostei muito...
Fiquei feliz.
Entrei bem aos 30.

agora vc é, irrevogavelmente, um adulto.

Tomara.

como é?

Alguns alunos perguntaram...
Pensei um pouco... e respondi que não é diferente de completar 15 anos.
Mas, desta vez, vc se sente mais encorpado, menos fútil e com cabelos brancos a mais.

eu pensava q só era significativo pras meninas os 15 anos
os 30 são anúncio da decreptude. ainda me restam uns 3 anos de suspiros, até lá

Alguns rapazes acham importante os 15 invernos. Porque é uma idade de cabeçadas e desejos sexuais irrealizáveis.

eu gosta da inversão da previsibilidade metafórica q vc faz. mas quem nasceu em julho, e é da noite, sou eu. vc, nascido na primavera, solar, comemorando invernos? boreal sou eu.
acho q os homens vivem eternamente Às cabeçadas. 15. 30, 40... ha diferença?

Sei que sou da estação das plantas... mas é que boa parte da minha vida foi um inverno...
Bem, aí já não posso confirmar. É raro eu dar tropeços, atualmente. Não sou perfeito, mas agora faço cautela.

... pareceu uma história q contava para os meus: uma estrelinha q tinha medo do escuro. medrosa, se escondia. até q descobriu q, brilhando, a escuridão apagava.
mas tudo bem... eu deixo! afinal, tb apreendi algumas de suas pretensões metafísicas, e as espalho por aí, como se minhas fossem


Acredite, eu queria te dar bem mais afeto que valesse... plantando um baita girassol na tua vida.

já floreceu