sábado, 5 de março de 2011

janeiro



descobri com o caio f. que tem jeitos muito diversos dos meus de se iludir: há quem se engane repetindo para si mesmo que tem um dragão com quem mora; há que se diga todos os dias: que será doce.

claro que eu faço isso também, mas quando chove granizo em pleno sertão, como ontem, apenas me permito dissolver as velhas expectativas numa ladainha seca, escondendo ao máximo a tempestade interna, apesar de violenta e irremediável, escondida como boa parte dos meus projetos vencidos.

voltar à casa onde se perdeu a infância é reconhecer como a invenção de esperanças de que aprenderia a voar e seria feliz podem se tornar duradouras. voltei. mal consigo ver, espalhadas em cacos aleatórios, o reluzir fugaz de recortes de lembranças misturadas, o que foi e o que nunca será agora são inseparáveis: era para ser contínuo e fresco, era para ser boa como a aventura dos meninos perdidos, mas eu apenas voltei ainda com a pele colada com dúvidas e nãos e outros tantos talvezes, essa velha coleção de mágoas além das recentes desarmonias...

os anos girando e eu ainda me debatendo no inóspito desse mar de areia seca granulada e fria como a dúvida em si mesmo, que nos assola em plena madrugada insone, esses desencontros que me congelam pouco a pouco. mar de gelo no sertão.

"na vida, devemos desconfiar: do sultão, do mar, da sorte e do amor; principalmente quando estes sorriem para nós"

e lá vou eu: a perdida, a incerta, a desgastada; cada dia mais ciente de que se os dragões não conhecem o paraíso, eu tampouco.

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