quarta-feira, 8 de julho de 2009

[parêntese explicativo]

[choveu mais cedo. eu nem tinha percebido, mas bastou colocar a cara na rua para sentir a baforada fria da saudade de um nós dois já tão antigo que até eu quase não lembrava.
só entende quem já encontou alguém com quem se quisesse, eternamente, dormir com as mãos enlaçadas.
é por isso que não há nada a ser dito ou feito capaz esconder este deserto úmido e invisível que permanece no meu coração. invisível para os outros. ninguém consegue me fazer esquercer de vê-lo luminoso e frio.
chovia na manhã em que eu me escondia entre livros, telas, ingredientes de outras lembranças. atrasos e queixas desse ritmo tordo da minha vida morna. uma ata. tudo igualmente embolado e sem ritmo. se eu pudesse, permaneceria cá dentro, escondida, sem voz, sem motivos para experimentar o vento do lá fora. isso a que chamam mundo civilizado tem graça? nem.
destranquei cadeados e portões. embora fosse a brisa a grande semeadora de discóridas e lutos, essas andanças teimosas que empreendo por vias cada vez mais tomadas de gente na contra mão de mim, guarda-chuvas e carros irritando-me os passos mais simples, eu ainda somei duas ou três lembranças tardias de uma decepção já morta. mesmo daqui quinze anos elas ainda me acompanharão. sou tão previsível e tola.

ruas sujas. gentes. gentes. mais gentes. barulhos. água. eu seguindo, sempre atrasada, sempre perdida. quem nota a tristeza profunda nos meus olhos? quem conhece essas narrativas sem nexo que me atormentam o sono mesmo após tantos meses de ausência física e de anulação dos votos eternos de amor? [sim, hoje eu sonhei com o sorriso e o abraço branco de um amor que nunca tive, mas que me mentiu muitíssimo bem]. nem eu lembrava. por alguns poucos instantes, destes segundos que a gente para de respirar por qualquer bobagem, eu esqueci o meu deserto. instantes raros. distração. o deserto continuava lá. ele é forte. e muito árido.]

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