sábado, 28 de fevereiro de 2009

Fragmentos de um [des]amor



[ANTERIORIDADES]

Cerro um pouco os olhos onde subsiste
Um romântico apelo vago e mudo
_Um grande amor é sempre grave e triste.


Julho

sobre esta noite:


tanta angústia fresca guardada com acúmulos de esperanças, palavras mergulhadas em ressentimentos tardios e dores mudas. meus dias atravessados às cegas, barco perdido na tempestade inesperada que desafiou a noite de sonhos lindos, lindos. vento e água. desatino. tudo perdido. promessas e lágrimas vão perdendo suas cores. quanta dor consigo suportar em nome desse amor disforme? é amor ou teimosia? ao menos, quando a raiva toma o lugar da dor, alivia.


Sobre um fim de semana de ausências:

o meu corpo esteve nu e livre. andei-comi-vi-falei-ri-dei-pedi-ouvi-estudei-fiquei-doente e quis chorar. dias arrastando esse corpo em lugares em que eu mesma não estava. o meu desejo teima em fugir disto que tenho e perco tudo.

a maior aflição nem sei se é a impossibilidade de banhar-me novamente na calmaria do saber-se amada, enquanto se ama, incondicionalmente. solo arrasado. fontes secas. desolação. cal por sobre meus pés, e nos meus cabelos.

dói também a tortura dessa dúvida insistente: e se for a nossa última chance? [nossa?] e se o jogo mudar agora? ah... eu queria tudo como era antes... a velha e boa paz de esperar o possível...

será o meu pecado assim tão sujo? não merecerei a benevolente chance de ao menos um acerto? uma casinha amarela, jardim florido, um amor, uma criança rindo. to começando achar que a felicidade é demais para mim, e que me converti novamente.

sempre fui só. quis mudar isso tantas vezes. desta eu pensei ter conseguido, enfim. foi sonho e acordei para o pesadelo inconstante e solitário que são meus dias medíocres. nem filosofia nem esperanças. nada me fará rir como quando eu contava com o amor ingênuo... foram-se o verão e a minha paz. tudo está gelado e doentio. tenho febre, dores, espirros infinitos, catarro no coração.

[...]

a minha cabeça fútil se enredou em esperanças infantis. quis o retorno, o arrependimento, o perdão, o final feliz dos contos de fadas e das novelas de quinta. sou mesmo uma vergonhosa falcatrua, uma cópia, um simulacro, tão sensata e pura eu me apresento, mentira! sou doida e fraca. quero o simples. mas aceito qualquer arremedo de felicidade que me derem. sou fácil e tola. mas acho que sou especial e firme, por isso falo tantas bobagens vãs. tremo de esperanças apenas qo toque tardio de palavras que sei não passarem de fumaça de candeeiro: de manhã não resta nem a lembrança do cheiro dela. tudo podia ser diferente. eu queria tanto, com amor e sinceridade puras. ilusão de criança.

cansei de ser essa que chora e espera. para que tanto amor e respeito se sou esquecida, despresada?

[...]
perdas e dores e medos cada vez maiores...

joguei fora meu tempo e minha energia fantasiando uma vida comum e doce. tinha sol claro no meu caminho inventado. era dia mesmo nas noites: a lua alta no céu, sob a água eu ria, em meio às gentes dançava, em casa suspirava, amava entre arrepios. tudo perdido. deixado. peças vencidas no jogo em que não percebi estar como coadjuvante.

agora? resignação. um pouco de mágoa também. no labirinto de sonhos que ergui eu mesma fiquei presa. amarrada pelas expectativas da minha mente. devaneios de criança: as borboletas no quintal me fascinavam. quis ter um casulo só meu, dormir de gorda, sonhar tudo lindo, ser esperada pelo mundo inteiro, acordar viva, abrir meus próprios rumos coloridos, erguer as asas encarnadas, beijar o doce das flores, todos os jardins se ofereceriam apaixonados por mim, acompanhar todos os ventos do mundo, experimentar tudo, me lambuzar de sol, alcançar os astros!

mas sou apenas uma lagarta monótona e resmungona pastando o amargo dos dias de uma vida rasteira e monocromática.

[...]

uma caneca de chá morno sobre a cama. palavras sem sentido que não tenho coragem de pensar mas que me atormentam mesmo assim. Uma madrugada que se anuncia longa e solitária. Gripe forte. Sms doentios, saudades de casa, de mim quando criança, de meus sonhos puros, de ter crença que eu mesma podia mudar tudo, quando quisesse...

não entendo o enredo da minha vida. quero outro. só que não sei qual.






tudo depende do humor do Sol.

eu só queria que cessasse esse mal invisível

que me condena a ser só

estou cansada deste marasmo de lamentações inoportunas

e também dos falsos arrependimentos tardios

tenho sono profundo:
a eternidade distraindo-me em sonhos

o que mais eu poderia querer?

não há aqui qualquer chance melhor de redenção.

o descanso eterno, eis o único futuro que me aguarda

bela tem razão

só a morte pode esculpir este palácio

de glórias, de amor, de quimeras

em que eu tenho desejado viver

sono profundo, desistência infinita, cansaço máximo

no fim, o vento leva as palavras boas e más

depois leva também a lembrança apagada delas

a mesma brisa que refresca,

pode igualmente ferir o rosto


tudo depende do humor do sol.

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